22 de janeiro de 2015

FORUM SOCIAL MUNDIAL 2015

Rumo ao Fórum Social Mundial


FONTE: http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=82894

Sergio Ferrari
Adital

A primavera árabe vive uma certa frustração e retrocesso. Com essa perspectiva, a próxima edição do Fórum Social Mundial, que se realizará novamente na capital de Túnis, entre 24 e 28 de março de 2015, redobra sua importância. "É necessário aumentar o nível de consciência dos cidadãos para mobilizar mais contra as injustiças, as desigualdades e em favor da liberdade e da dignidade de nossos povos”, enfatiza o pesquisador econômico marroquino Mimoun Rahmani, 46 años, membro ativo do Fórum Social de Magreb. Rahmani (foto) é também um importante analista político e social da região; militante do ATTAC (movimento em favor da aplicação de uma Taxa Tobin para punir os capitais especulativos internacionales) e membro do grupo de coordenação do Comitê pela Anulação da Dívida do Terceiro Mundo/ África (CADTM). Entrevista exclusiva.

O FSM será realizado de novo em Túnis na última semana de março do próximo ano. Por que repetir o mesmo lugar que em 2013? De onde nasceu a proposta?

Mimoun Rahmani: Sem dúvida alguma, o FSM de Túnis em 2013 foi uma das edições de maior êxito desde o seu nascimento em 2001, em Porto Alegre, Brasil. E foi o melhor conclave dessa natureza dos quais foram realizados até agora na África (Quênia e Senegal). O processo revolucionário e os levantes populares que se deram em diversos países árabes tiveram uma grande importância. Por outra parte, o Conselho Internacional (instância facilitadora do FSM), logo após a edição tunisiana de 2013 fez um balanço muito positivo. Também foi positiva a avaliação que, em setembro de 2013, em Túnis, fez o comitê de acompanhamento do Fórum Social de Magreb. Ambas as instâncias propuseram refletir as organizações dessa zona do norte de África em geral e a as tunisianas em particular, sobre uma nova candidatura para 2015, para receber pela segunda vez consecutiva o FSM. Finalmente, em dezembro de 2013, em Casablanca, o Conselho Internacional tomou a decisão de realizar a edição 2015 na capital tunisiana. E agora a preparação da mesma entra em sua fase decisiva…

Qual é a visão desde Magreb do que representa o Fórum Social Mundial quase 15 anos depois do nascimento desse novo espaço de confluência da sociedade civil internacional?

MR: O Fórum é um espaço plural e diversificado, mas também é um processo que se desenvolve no tempo, com seus altos e baixos. Não é um simples evento formal e no mesmo os movimentos sociais constituem um dos componentes essenciais dessa dinámica. Nesse sentido, sua presença e participação ativa é duplamente importante. Por um lado, são tais movimentos que dão força ao Fórum e à sua expansão. Por outro lado, é o Fórum em si mesmo, como espaço, o que permite aos movimentos sociais de fazer convergir suas lutas específicas, rompendo assim o isolamento dessas experiências essenciais. Potencializando as articulações necessárias para que essas experiências reforcem uma luta comum contra o neoliberalismo e, de uma forma geral, contra a globalização capitalista. Ou seja, uma convergência que tenda a modificar a relação de forças em nível mundial.

Insisto…: o FSM entendido como um espaço aberto e convergente da sociedade civil mundial?

MR: Penso que o FSM não deve limitar-se a ser "o espaço aberto de reflexão, debate de ideias democráticas, formulação de proposições, intercâmbio de experiências”, tal como define sua Carta de Princípios. Deve também tornar visíveis as lutas sociais e ter um papel de catalizador dessas lutas. Se não, não tem muita razão de existir. E daí a importância capital de mobilizar mais e mais os movimentos sociais tunisianos, magrebis, africanos e de outras regiões do mundo para essa próxima edição 2015. O êxito do nuevo FSM dependerá, uma vez mais, da participação ativa de tais movimentos sociais, das organizações em luta, dos camponeses e trabalhadores, dos estudantes, dos desempregados, dos jovens, das mulheres, dos excluídos e marginalizados.

A dinâmica pós-primavera árabe no norte da África vive um certo retrocesso… Qual é a sua interpretação sobre essa situação contextual regional no marco da qual será realizado o Fórum 2015?

MR: Se os levantes populares em 2011 conseguiram derrubar as cabeças dos regimes em Túnis e Egipto, não conquistaram, no entanto, a derrota dos regimes mesmos. Permitiram realizar algumas mudanças pequenas em outros países árabes como o Marrocos, não conseguiram que se introduzam mudanças políticas e econômicas profundas. O processo revolucionário é longo e necessita tempo, energia e determinação. Ao falar de Che Guevara, "Em uma revolução se triunfa ou se morre”. Lamentavelmente, não se vê em nenhum país da região uma força política capaz de conduzir um processo revolucionário. Os governos instalados, eleitos ou impostos, não promovem políticas para mudanças que rompam com o passado. Em outras palavras, se repetem hoje as mesmas opções econômicas neoliberais que antes; as mesmas políticas públicas; e orientações semelhantes ditadas pelas instituições financeiras internacionais (Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial). Em síntese, se percebe hoje o mesmo marco asfixiante ou inclusive pior, o que desencadeou os levantamentos populares na região a partir de 2011. Nesse sentido, a nova edição do Fórum Social Mundial a ser realizado em nossa região é mais do que importante. É necessária na medida em que permitirá, entre outras cosas, elevar o nível de consciência dos cidadãos na perspectiva de se mobilizar mais para enfrentar as injustiças nas desigualdades crescentes e em favor da liberdade e da dignidade dos povos.

Entre 30 de outubro e 1º de novembro próximos, o Conselho Internacional do FSM, como instância facilitadora do mesmo, vai realizar um encontro transcendente para a organização do evento de março próximo. Possivelmente, defina também os eixos temáticos de Túnis 2015. A partir da sua perspectiva magrebi, quais deveriam ser esses conteúdos essenciais?

MR: Como o Fórum é um espaço muito diverso e como as atividades são autogestionadas, seguramente, haverá uma grande variedade de temáticas a discutir. Contudo, o contexto regional e internacional faz com que certos eixos sejam mais prioritários. Em nível regional, em primeiro lugar, o processo revolucionário em curso, em particular em Túnis (já que o mesmo foi abortado no Egito e em outros lugares). O FSM será uma boa oportunidade para os movimentos sociais de fazer um balanço desses processos. Outras temáticas estarão na ordem do dia, entre elas o Islamismo político; os conflitos; a guerra e militarização; os direitos humanos e a livre expressão e opinião (levando em conta a perseguição de militantes e ativistas na região) etc.
Em nível internacional, o contexto está profundamente marcado pela continuidade da crise global e suas consequências para a população tanto no Norte como no Sul: austeridade e planos de choque, a dívida, os acordos de livre câmbio (acordo transatlântico entre a Europa e as nações do Mediterrâneo; acordos de relações de contrapartes económicas – como o APE – entre a União Europeia e certos países da África do oeste etc.). E, com certeza, a temática sensitiva sobre o clima, que constituirá um centro de atenção transcendente no FSM 2015. Fórum que deverá marcar uma escalada importante na preparação das mobilizações internacionais em torno da Conferência da COP21 sobre o clima prevista para o fim de 2015 em París.

O que poderá fazer a comunidade internacional comprometida para reforçar a presença dos movimentos sociais da região magrebi?

MR: A solidariedade internacional é um imperativo. Deverá manifestar-se a todo o momento, expressando seu apoio às diferentes lutas dos movimentos contra a injustiça, o racismo, ou contra a repressão por parte das autoridades que buscam criminalizar os movimentos sociais. E exigir o pleno exercício dos direitos fundamentais, entre eles em favor da liberdade de expressão e opinião. É através desse exercício solidário entre o Norte e o Sur que se poderá sustentar e dar coragem aos movimentos sociais e implicá-los ativamenten nos Fóruns Sociais.
É fundamental a solidariedade com as mulheres vítimas de estafas nos microcréditos no sul do Marrocos ou com as 595 mulheres da função pública em luta há 11 meses contra o seu licenciamento devido a medidas de austeridade impostas pelo governo grego, sob a tutela das instituições financeiras internacionais e da União Europeia. Ou inclusive a solidariedade com os jovens desempregados do sul de Túnis, que estiveram na origem mesma da revolução e que sofrem sempre os efeitos das políticas ultraliberais aplicadas pelo governo provisório.
É esse tipo de solidariedade que necessitam os movimentos e que, eventualmente, poderá facilitar sua participação no FSM 2015. É importante que os organizadores do FSM assegurem certos recursos financeiros para apoiar a presença desses movimentos e inclusive, por que não, organizar uma caravana que comece no sul de Túnis, parando em diferentes cidades e localidades, para chegar à capital no dia da abertura, 24 de março. Dessa caravana, poderiam participar delegados das organizações e movimentos sociais de Magreb e em nível internacional.
Insisto, o grande desafio dessa 2ª edição do Fórum em Túnis será a capacidade de mobilizar e assegurar a presença dos movimentos sociais.

Em que medida as próximas eleições a serem realizadas em Túnis, em 26 de outubri, puede ameaçar ou complicar a realização do FSM?

MR: O governo tunisiano tem expressado seu acordo para que o FSM se realize em seu país. O Comité local de organização está em discussão com as autoridades e o FSM será realizado, como ocorreu em 2013, no cômodo e extenso campus universitário de Al Manar. Penso que o governo que surgirá das eleições legislativas da última semana de outubro, seja qual for sua composição, não vai querer colocar em questão a realização do FSM. Que aportará, inclusive, recursos econômicos para o país! Adicionalmente, estou convencido de que o FSM deve ser considerado como uma conquista dos movimentos sociais. Qualquer eventual tentativa de proibi-lo deverá ser energicamente condenada pelo movimento altermundista, que deverá lançar uma ampla mobilização internacional. O espaço do FSM pertence ao movimento altermundista em seu conjunto, que deve se apropriar dele efetivamente.
Sergio Ferrari: Colaborador de imprensa E-CHANGER/COMUNDO, organização de cooperação solidária ativamente presente no FSM e co-organizadora das delegações suíças aos FSM.

O FSM, de Túnis em 2015 a Montreal em 2016

Nascido em 2001 em Porto Alegre, Brasil, o Fórum Social Mundial se realizou até agora cinco vezes nesse país sul-americano (2001, 2002, 2003 e 2005, em Porto Alegre, e 2009, em Belém do Pará). Duas vezes na África subsaariana (em 2007, em Nairóbi, no Quênia, e, em 2011, em Dakar, no Senegal), uma vez na Índia (Mumbai, 2004) e a última edição em Túnis, em 2013. Participaram mais de 60 mil representantes de 4.500 organizações de 128 países. A próxima edição, entre 24 e 28 de março de 201,5 novamente é convocada para a capital tunisiana. A iniciativa dos organizadores magrebis vai de mãos dadas com uma proposta mais ampla, denominada Quebec-Túnis, coordenada com a militância canadense, e que abarca o processo do Fórum para 2015 e 2016. A mesma prevê a realização do FSM seguinte, em agosto de 2016, em Montreal, Canadá. Falta ainda a decisão última do Conselho Internacional sobre a iniciativa canadense. (Sergio Ferrari)

21 de janeiro de 2015

SANGUE HUMANO: UMA MERCADORIA NO SUBMUNDO SOMBRIO!


"O Sonho da Aldeia Ding", do escritor Yan Lianke, é uma ficção que carrega o peso de uma verdade triste. O romance, fundamentado por três anos de pesquisa do autor, conta a história de um vilarejo pobre da China onde o sangue de seus cidadãos é comercializado como qualquer outra mercadoria.
A atividade é exercida sem seguir normas de higiene e causa discórdia entre os aldeões.
Por meio da narrativa, o autor traz à tona os conflitos éticos trazidos pela pobreza extrema, assim como pelo desejo de enriquecimento, e mostra como a ganância termina por drenar e contaminar literalmente a vida da China.
Yan Lianke é considerado um dos principais escritores asiáticos vivo. É também um forte opositor da ditadura que reina em seu país. Foi expulso de lá por causa do livro "A Serviço do Povo", que faz sátíra com as idiossincrasias da população chinesa.
Leia o primeiro capítulo de "O Sonho da Aldeia Ding".
*
Debaixo dos raios do sol poente, a planície do Henan estava vermelha, vermelha como sangue. Era fim de outono. Fazia frio. As ruas da Aldeia dos Ding estavam desertas. Os cães estavam de volta ao seu canto. As galinhas, empoleiradas. As vacas, há muito tempo deitadas no calor dos estábulos.
Nenhum ruído perturbava o silêncio da Aldeia dos Ding. A vida era igual à morte. Silêncio, fim de outono, crepúsculo.
A aldeia e seus moradores haviam definhado, e, como o capim e as árvores da planície, a vida secara: não passava de um cadáver enterrado em seu túmulo.
O vermelho do sangue dera lugar à escuridão da noite. Enfurnados em casa, os aldeões não saíam mais.
Meu avô, Ding Shuiyang, estava de volta da cidade. O ônibus que ligava Weixian, capital do distrito, a Dongjing, capital da província, deixara-o no acostamento da estrada principal como uma folha seca que o outono separa da árvore. O caminho que levava à Aldeia dos Ding fora pavimentado dez anos antes, quando todos os aldeões vendiam seu sangue. Por um instante, meu avô permaneceu imóvel no acostamento da estrada contemplando a aldeia que se estendia à sua frente. O vento trouxe-o de volta à realidade. Depois que embarcara no ônibus para ir à cidade escutar as intermináveis e melífluas exposições dos representantes do governo local, a confusão reinava em seu espírito. Agora tudo parecia claro como o sol nascendo num céu sem nuvens. Assim como é óbvio que as nuvens trazem chuva e o fim do outono traz frio, era óbvio que os aldeões que haviam vendido seu sangue dez anos antes iriam contrair "a febre" e deixar este mundo como as folhas mortas que o vento fazia cair das árvores no outono.
A doença escondia-se no sangue como meu avô imergia em seu sonho. A doença amava o sangue como meu avô amava o sonho.
Meu avô sonhava todas as noites. Fazia três noites que tinha um sonho recorrente. Ele estava em Weixian ou Dongjing. O sangue percorria uma rede de canalizações subterrâneas que se ramificava sob a cidade como uma gigantesca teia de aranha.
Nos locais em que os dutos estavam mal encaixados, o sangue esguichava para cima e caía numa chuva vermelha cujo cheiro irritava o nariz, e sobre toda a planície ele via o sangue brilhar nos poços e nos rios.
Nas cidades e aldeias, os médicos lamentavam sua impotência em refrear os progressos da doença, mas, diariamente, um médico, instalado numa rua da Aldeia dos Ding, esfregava as mãos de alegria. Na aldeia silenciosa, enquanto as pessoas se enterravam em suas casas, esse médico quarentão, sentado embaixo de sua velha sófora, a arca de remédios jazida a seus
pés, ria desbragadamente. Sua risada sonora fazia as árvores estremecerem e as folhas caírem, assim como o vento do outono que não esmorecia.

Quando saía do sonho, as autoridades convocaram meu avô para uma reunião. Como a Aldeia dos Ding havia perdido seu chefe, ele havia sido nomeado para substituí-lo.
De volta da reunião, diversas evidências ficaram claras para ele.
Em primeiro lugar, a doença que chamavam de "febre" tinha um nome: Aids.
Em segundo lugar, aqueles que haviam vendido seu sangue aquele ano haviam sido acometidos pela febre duas semanas depois e deviam forçosamente estar com Aids.
Em terceiro, aqueles que estavam com Aids apresentavam agora os mesmos sintomas de oito ou dez anos antes: uma febre comparável à da gripe, que desaparecia assim que eles ingeriam um medicamento antipirético, mas, três ou cinco meses mais tarde, eles já não tinham mais forças. Manchas e pústulas apareciam em seus corpos. Micoses carcomiam suas línguas e eles começavam a definhar. No fim de três meses, oito meses, muito raramente um ano, morriam. Carregados pelo vento como folhas secas. A luz se apagava e eles não eram mais deste mundo.
Quarta evidência: de dois anos para cá morria uma pessoa por mês na Aldeia dos Ding. Quase todas as famílias haviam perdido alguém. Mais de quarenta pessoas estavam mortas. Os sepulcros erguiam-se como feixes de trigo por toda parte nos campos. Alguns doentes com hepatite ou tísica, mas outros também cujo fígado e pulmões estavam perfeitamente saudáveis, não conseguiam engolir mais nada. Reduzidos ao estado de esqueletos, morriam seis meses mais tarde, depois de haverem cuspido uma bacia cheia de sangue. Carregados pelo vento como folhas secas. A luz se apagava e eles não eram mais deste mundo. Estivessem doentes do estômago, do fígado ou dos pulmões, era para todos a mesma "febre". A Aids.
Quinta evidência: aquela "febre", que no início só afetava os estrangeiros, as pessoas da cidade e os depravados, espalhara- se por toda a China, inclusive pelas aldeias, golpeando agora pessoas de conduta absolutamente inatacável. Como uma revoada de grilos, a doença abatia-se sobre as aldeias.
Sexta evidência: os que estavam doentes achavam-se irremediavelmente condenados. Era a nova doença mortal que golpeava o gênero humano, e o dinheiro nada podia contra ela.
Sétima evidência: aquilo era apenas o começo. A explosão iria produzir-se dali a um ano e atingiria seu paroxismo no ano seguinte. Por ora, dava-se a um homem que morria a mesma atenção que a um cão. Logo sua morte seria tão ignorada quanto a de um pardal, uma traça ou uma formiga.
Em oitavo lugar: eu estava enterrado atrás da escola onde meu avô morava. Quando eu morri, tinha acabado de completar 12 anos. Fui envenenado por um tomate que eu colhera ao voltar da escola. Seis meses antes, alguém dera veneno para nossas galinhas. No mês seguinte, o leitão que minha mãe criava comera um nabo envenenado e morrera. Por fim, eu comera o tomate envenenado largado numa pedra na beira do caminho que eu tinha que percorrer ao voltar da escola. Mal o engoli, tive a impressão de que me rasgavam as entranhas e desabei depois de alguns passos. Meu pai acorreu e me carregou às pressas para casa. Morri cuspindo uma espuma branca assim que ele me colocou na cama.
Eu estava morto, mas não morrera da "febre", isto é, de Aids.
Minha morte resultou da gigantesca coleta de sangue à qual meu pai se dedicara dez anos antes. Eu morrera porque ele se tornara o grande administrador do sangue para a Aldeia dos Ding, a Aldeia dos Salgueiros, a Aldeia das Águas Amarelas, a Aldeia do Segundo Li e outras aldeias da região. Ele era o rei do sangue.
No dia da minha morte, ele não derramou uma lágrima. Primeiro, quedou-se por um instante sentado ao meu lado com meu tio. Em seguida, os dois homens se levantaram e, equipados com uma pá afiada e um machado reluzente, foram se plantar no cruzamento de duas ruas, onde proferiram, com toda a potência de seus pulmões, uma torrente de invectivas destinadas à aldeia.
Meu tio berrou:
- Bando de canalhas, vocês só são bons para envenenarem à socapa, apareçam se tiverem colhões para que eu, Ding Liang, possa lhes arrancar a pele.
Meu pai, agitando sua pá, emendou:
- Vocês todos têm inveja de ver que eu, Ding Hui, sou rico sem ser doente! Tenho certeza! Estão com inveja! Pois bem, eu, Ding Hui, amaldiçoo seus ancestrais até a oitava geração.
Vocês envenenaram minhas galinhas, meu leitão e tiveram a suprema audácia de envenenar meu filho!
Continuaram assim até a noite.
Ninguém se atreveu a aparecer.
Finalmente, me sepultaram

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