17 de maio de 2016

TRÁFICO DE SANGUE SE PROLIFERA PELO MUNDO

Escrito por: Elora Marconi, para PUC Minas.

A proliferação mundial de mercados negros de sangue
Um comércio similar e tão próspero quanto o da Índia, vem se renovando na China como um reflexo histórico da relação autoritária do Estado com sua população. Entre as décadas de 1980 e 1990, diante do cenário de esgotamento da reserva nacional de sangue, militares chineses passaram a forçar agricultores miseráveis a doarem sangue para que estes fossem vendidos ao banco estatal. Estes oficiais ficaram conhecidos como “cabeças de sangue” e na época cerca de cem pessoas contraíram AIDS e outras doenças através do precário e insalubre processo de coleta e transfusão (HARNEY, 2015). Os cabeças de sangue atuais aproveitam a fragilidade causada pela série de escândalos[xii] do sistema público de transfusão chinês, para renovar o mercado negro de sangue. Para incentivar a doação voluntária, o país decretou em lei a obrigatoriedade de familiares e amigos de pacientes regulares de transfusão doarem sangue em épocas de déficit sanguíneo dos bancos estatais em troca de um certificado que garantiria a transfusão para o necessitado. Mais uma medida rigorosa do governo que recaiu sobre os doentes que necessitam de transfusões regulares, uma vez que nem todos dispõem de famílias e amigos que lhe ofereçam o certificado. Além disso, muitos hospitais passaram a prover sangue apenas sob apresentação do mesmo, o que facilitou a renovação do mercado negro no país. Os cabeças de sangue passaram a pagar indivíduos que aceitem doar sangue “voluntariamente” ao banco estatal em troca do certificado, para que então revendam a terceiros que necessitem (HARNEY, 2015).
Na Bulgária, no início dos anos 2000, o déficit sanguíneo chegou a tal nível que apenas os sujeitos que pudessem contar com a doação de amigos e familiares poderiam receber transfusões de sangue, do contrário, deveriam comprar unidades provenientes de doações de ciganos[xiii] – população marginalizada no país. Apesar da forte campanha nacional em prol da doação de sangue, o país vivenciou a baixa de quase 40% das doações nacionais em função do alto fluxo emigratório de seus jovens e a baixa coesão de sua população. Desde então o governo búlgaro vem lançando mais campanhas de incentivo à doação, enquanto a opinião pública se divide entre os que são contra a remuneração de doadores prevista em lei[xiv] ou o aumento dessa “retribuição” governamental ao ato de “doar” sangue para o banco nacional (PIMENTA, 2003).
Por fim, e talvez o exemplo mais extremo dessa prática na atualidade, está o fato de inúmeros indivíduos africanos contaminados pelo ebola, em 2014, passarem a recorrer ao mercado negro em busca do sangue de sobreviventes da doença (OMS AFIRMA…, 2014). A OMS noticiou o alastramento da prática na Guiné, Libéria e Serra Leoa, países atingidos pelo surto, depois do conhecimento público de estudos que sugerem a presença de anticorpos no sangue dos sobreviventes da febre hemorrágica que podem combater o vírus ebola. Longe de comprovações científicas, o chamado “plasma convalescente” pode vir a ser um soro contra a doença, contudo, se for comprovado a organização garante que o tratamento só seria eficaz sob um cuidadoso e eficiente regime de bancos de sangue (OMS AFIRMA…, 2014).

Veja artigo na íntegra: https://pucminasconjuntura.wordpress.com/2015/05/12/o-recrudescimento-do-lucrativo-mercado-negro-de-sangue/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens